20 de mar. de 2009

José A. Bragança de Miranda

O design como problema
[ José A. Bragança de Miranda ]


«Tentei completar uma circunstância da vida como um edifício, solto no espaço sobre terreno usado. Fiz uma forma contra o céu em superfície plana, como um corte nas ervas daninhas, mas aborreci-me e não o acabei. Faço algo que, à medida que muda e se desintegra, não deixa pistas quanto à sua natureza anterior, como se todas as fotografias fossem imagens de mobilidade. Pequenas margaridas crescem no corte, preservando a forma».  
Mei-mei Berssenbrugge



Com a aceitação moderna da imanência o humano caracteriza-se, fundamentalmente, pela sua capacidade constituinte. Nenhuma constituição política consegue absorver esse poder constituinte, que faz e refaz a experiência, que, por seu turno, nos faz a nós e, muitas vezes, nos desfaz. Pelo mero facto de se agir tudo é transfigurado e, em certa medida, anulado. Só o agir é sintético, embora decorra sempre sobre o fragmentário, na parcialidade de um «aqui e agora». Em suma, tudo aquilo que sobrevem decorre na materialidade da imanência, mesmo o mais místico e transcendente. Numa certa versão da modernidade, que se pretende racional, os «deuses», os «minotauros» ou as «sereias», eram simples espelhismos da imaginação ou produtos poético que, quanto muito, têm uma justificação estética. Mas enquanto produto da capacidade constituinte, mesmo sendo «imagens», não deixam de ter efeitos, e bem potentes. É sempre menos o real que muda do que as imagens em que é dado a ver. Esse poder constituinte esteve sempre em acto, mesmo na Idade Média, onde o mínimo recanto estava preenchido pela plenitude de um Deus e assombrada por demónios[1], embora mediado por «ideologias» que, controlando-o ou dissimulando-o, lhe davam curso. (...)